segunda-feira, 12 de março de 2012

"AS METAMORFOSES"

Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só
apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um
movimento contínuo, como um rio... O que foi antes já não é, o que não
tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite, próxima do
fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da
noite... Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de
nossa vida? Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à
criança nova... A planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche
de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com
o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra, então, a
quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e
ardente. Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a
quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas
embranquecem. Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos
cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão
brancos como a neve dos caminhos. Também nossos corpos mudam
sempre e sem descanso...

(Trecho da obra As Metamorfoses do poeta romano Ovídio)

sexta-feira, 2 de março de 2012